Encontros tiveram presenças dos governadores estaduais, secretários e empresários do setor
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) esteve, nos dias 18 e 19 de junho, em reuniões com empresários e os governos do Ceará e da Bahia, respectivamente. Os encontros aconteceram nas sedes dos poderes executivos estaduais e tiveram o objetivo de apresentar as principais pautas do setor para os dois estados, que estão entre os maiores produtores, empregadores e exportadores da indústria calçadista no Brasil.
Empregando, diretamente, mais de 288 mil pessoas em cerca de 600 municípios brasileiros, a indústria calçadista nacional é a maior do Ocidente, com uma produção estimada em mais de 865 milhões de pares. No entanto, segundo a Abicalçados, o setor vem perdendo competitividade, tanto em função dos crescentes custos produtivos acumulados no chamado “Custo Brasil”, quanto em função da concorrência desleal impostas pelos players asiáticos. “Já fomos o terceiro maior produtor de calçados do mundo, hoje estamos na quinta posição. E, quando falamos de exportações, estamos perdendo ainda mais espaço em função dos nossos grandes custos produtivos”, comenta o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, ressaltando que, há cerca de duas décadas 35% da produção nacional era exportada e hoje apenas 14% dessa mesma produção é destinada ao mercado internacional.
Concorrência desleal
No mercado interno, segundo Ferreira, o problema tem sido o crescente “Custo Brasil”, estimado em mais de R$ 1,7 trilhão por ano, além da “invasão” de calçados asiáticos no varejo. Os países asiáticos, continua o dirigente, são países com baixa ratificação das convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), tratados internacionais que definem padrões e pisos mínimos a serem observados e cumpridos por todos os países que os ratificam. “Os três maiores players asiáticos, China, Vietnã e Indonésia, por exemplo, não ratificaram convenções importantes relacionadas a jornadas de trabalho, salários ou políticas sociais”, afirma. “Então, é uma concorrência desleal não somente com a indústria brasileira, mas com todas as melhores práticas de ESG”, acrescenta.
Pleitos
Entre os pleitos levados aos governos cearense e baiano, Ferreira lista a necessidade de manutenção e ampliação do direito antidumping aplicado contra o calçado chinês, hoje em US$ 10,22 por par. “Porém, mesmo com a aplicação, três grandes grupos chineses, que respondem por quase metade dos calçados chineses que entram no Brasil, ficaram isentos. Ou seja, continuam exportando produtos com dumping - preços abaixo dos praticados no mercado - para o Brasil sem qualquer sobretaxa”, conta. Também lista a importância da manutenção da tarifa de importação de 35%, a inclusão do Vietnã e Indonésia no direito antidumping, a maior taxação das plataformas internacionais de e-commerce em remessas de até US$ 50, entre outros pontos.
Força dos mercados
Com a maior produção de calçados do Brasil e a segunda maior exportação, em volume, o Ceará tem no setor uma importante base da sua economia. Atualmente, a indústria calçadista cearense gera 64,7 mil empregos diretos e é a que mais emprega no âmbito da Indústria de Transformação no Estado. Já a indústria de calçados na Bahia emprega, diretamente, 39,6 mil pessoas, e é a quinta maior produtora do setor no Brasil, sendo a quarta principal exportadora, em volume.
Sensibilização
Em ambas as reuniões, Ferreira destaca a sensibilização dos poderes executivos, que colocaram suas bancadas nas câmaras estadual e federal à disposição para auxiliar nas pautas do setor calçadista brasileiro. “Foram encontros bastante produtivos, no sentido de que as equipes entenderam a importância do nosso setor no âmbito econômico e social brasileiro”, avalia o dirigente.
Na reunião ocorrida no Ceará, participaram o governador do Estado, Elmano de Freitas, o senador Júlio Ventura, Ferreira e os empresários calçadistas Pedro Grendene (Vulcabras) e Vilson Hermes (Grupo Dass). Já na reunião ocorrida na Bahia, participaram o governador do Estado, Jerônimo Rodrigues, os secretários de Estado Manoel Vitório (Fazenda), Angelo Almeida (Desenvolvimento Econômico) e Afonso Florence (Casa Civil), além de Ferreira e os empresários calçadistas Pedro Grendene e Vilson Hermes.